26 de mai. de 2010

Elogio a Aspirina

Claramente: o mais prático dos sóis,


o sol de um comprimido de aspirina:

de emprego fácil, portátil e barato,

compacto de sol na lápide sucinta.

Principalmente porque, sol artificial,

que nada limita a funcionar de dia,

que a noite não expulsa, cada noite,

sol imune às leis da meteorologia,

a toda hora em que se necessita dele

levanta e vem (sempre num claro dia):

acende, para secar a aniagem da alma,

quará-la, em linhos de um meio-dia.



Convergem: a aparência e os efeitos

da lente do comprimido de aspirina:

o acabamento esmerado desse cristal,

polido a esmeril e repolido a lima,

prefigura o clima onde ele faz viver

e o cartesiano de tudo nesse clima.

De outro lado, porque lente interna,

de uso interno, por detrás da retina,

não serve exclusivamente para o olho

a lente, ou o comprimido de aspirina:

ela reenfoca, para o corpo inteiro,

o borroso de ao redor, e o reafina


*João Cabral de Melo Neto




Meu reino por uma aspirina.
Cefaliv
Neosaldina....

4 comentários:

  1. "Mesmo sem querer fala em verso
    Quem fala a partir da emoção" - joão cabral de melo neto

    BRAVO! ÓTIMO POST!

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  2. me lembrei da Macábea Clariceana... não sei porquê.

    ela vivia tomando aspirinas.


    "aspirinas para dores existencias..."

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  3. rsrsrs.. Amei o post!!
    O máximo!!rsrs

    bjos =*

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  4. sim, as vezes precisamos de uma aspirina pra expirar de fora tudo que está doendo por dentro.

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